Por: Ricardo Noblat
A delação dos 77 executivos da construtora Odebrecht começa a fazer por merecer a alcunha de “delação do fim do mundo” antes mesmo do primeiro dos seus autores ser ouvido em Curitiba.
Por ora, o que está sendo revelado é o conteúdo do acordo de delação de um dos 77, Cláudio Melo Filho, diretor por muitos anos da Odebrecht em Brasília.
Foi o bastante para que o tempo fechasse de vez sobre os prédios do Congresso e do Palácio do Planalto, provocando intensa turbulência no voo que trouxe o presidente Michel Temer de volta do Nordeste.
Ao longo do acordo que ocupa 82 páginas, Melo Filho compromete as mais destacadas figuras do governo Temer, do Senado e da Câmara com o recebimento de dinheiro não declarado à Justiça.
Sobra, primeiro, para o próximo Temer, que teria arrancado da Odebrecht a doação de R$ 10 milhões para campanhas do PMDB em 2014. Parte da doação foi em dinheiro vivo, de caixa dois.
Sobra para José Yunes, um dos amigos mais antigos de Temer, e agora assessor especial dele na presidência, a quem foi entregue uma fatia do dinheiro vivo.
Sobra para a trinca de acólitos de Temer, os ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. E sobra para o ministro José Serra, o recente melhor amigo de Temer.
A cúpula do Congresso é atingida em cheio: Rodrigo Maia, presidente da Câmara; Renan Calheiros, presidente do Senado e Romero Jucá, líder do governo no Senado.
E mais os senadores Agripino Maia, Kátia Abreu, ex-ministra da Agricultura do governo Dilma, Eunício Oliveira, abençoado por Temer para suceder Renan, Tião Viana e Ciro Nogueira.
Na lista dos avulsos, o ex-deputado Eduardo Cunha, figurinha carimbada; Antonio Palocci, ex-ministros dos governos Lula e Dilma, e Jaques Wagner, ex-governador da Bahia e ex-ministro.
Tem gente sem partido, como é o caso de Kátia, e gente dos partidos mais importantes da base de apoio de Temer – PMDB, PSDB, DEM e PP. O PT está dentro (Tião Viana, vice-presidente do Senado).
O acordo de delação de outro executivo da Odebrech, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, introduziu na relação dos suspeitos de sempre o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo.
Lula e o filho dele, Lulinha, foram denunciados ontem à Justiça pelo Ministério Público Federal, acusados de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Nada a ver com a delação da Odebrecht. No caso de Lula e do filho, eles teriam embolsado uma grana preta por conta da venda ao governo brasileiro de 36 caças suecos do modelo Gripen NG.
O único nome de expressão nacional que parece ter ficado de fora da delação da Odebrecht, e das demais delações conhecidas até aqui, foi o da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Os efeitos da “delação do fim do mundo” sobre o governo Temer serão pesados. Ou Temer remonta sua equipe na tentativa de se manter no cargo, ou se arriscará simplesmente a perdê-lo.
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