E SE A MODA PEGA?... SOBRE A “CARCADA” DE HÉLIO COSTA EM MORASTONI



O que poderia acontecer se os jornalistas deixassem de frescura e começassem a encostar políticos e governantes na parede?

Tem gente que ficou assustada, tem gente que ficou eufórica. Os comentários que o DIARINHO recebeu sobre aquela entrevista do Hélio Costa no Jornal do Meio Dia (transmitido pela RIC/Record de Florianópolis) são, em sua maioria, favoráveis ao “carcaço”. Muitos gostaram de ver, pela primeira vez, um político ficar sem palavras, chocado com o que o apresentador estava dizendo na sua cara, no ar, sem qualquer cerimônia.

Nossa tradição é de jornalistas bonzinhos, até excessivamente (a meu ver) compreensivos com os entrevistados. Não importa o que estejam dizendo e qual a barbaridade que estejam querendo colocar ouvido adentro do espectador, o entrevistado raramente é contestado e quase nunca encontra um interlocutor que tenha coragem de, pelo menos, perguntar “como assim, cara pálida?”

Mas vamos imaginar que, de repente, num passe de mágica, todos os repórteres (principalmente os de TV e rádio, nas entrevistas ao vivo) resolvessem não dar mais mole pra enrolão. O que aconteceria?

Num primeiro momento seria o caos. Chamariam a OAB, a Lei de Segurança Nacional, o STF e fariam todo tipo de pressão sobre os donos dos veículos, para calar esses “terroristas da mídia”.

Se não tivessem sucesso (e como estamos imaginando, podemos também imaginar o impossível), tratariam de correr atrás de assessorias de imprensa e comunicação e de fazer cursinhos do tipo “media-training”. Tentariam aprender direito o que seus marqueteiros sempre quiseram ensinar: falar sem rodeios, ir direto ao ponto, conhecer o assunto, dialogar com firmeza, sem menosprezar a inteligência alheia.

Com isso, a coisa melhoraria um pouco. Afinal, fazer políticos falarem sem rodeios já seria um progresso e tanto. Mas ainda falta o principal.

E acredito que só depois de alguns anos de “carcadas” sistemáticas, de apupos, vaias e insucesso eleitoral, a cabeça dos políticos e dos agentes públicos começaria a mudar. Passariam a trabalhar de fato, cuidando da coisa pública com zelo e respeito. E até poderiam, os mais espertos, parar de querer levar vantagem em tudo, de embolsar dinheiro até de parte dos salários dos auxiliares e de tentar roubar tudo o que lhe passa à frente.

E aí, essa mudança radical de comportamento e consciência faria com que a conversa mudasse naturalmente. Não seria mais necessário enrolar, falar “veja bem…”, dar nó em pingo dágua, mentir: poderiam falar olho no olho, discutir abertamente e por mais incisivas que fossem as perguntas, responderiam com a tranquilidade de quem não tem nada a esconder.

Mas isso tudo é imaginação. O rompante do Hélio não é contagioso, a pressão para que não se repita é grande e os políticos, dos parlamentos e do Executivo, têm poder suficiente para colocar um freio nessa história. E enquanto for um desabafo aqui, outro ali, uma canelada hoje, outra daqui a três meses, nada acontece. Fica por isso mesmo, entra pro folclore e nada muda.

Mas se o impossível acontecer e as entrevistas começarem a ficar informativas, interessantes e os entrevistados sentirem que estão sendo encostados na parede, será ótimo. Talvez não dure muito tempo, mas será uma maravilha, enquanto durar.

Fonte: http://www.deolhonacapital.com.br/2013/11/07/e-se-a-moda-pega/

Comentários

  1. Belo exemplo para nossa imprensa de merda. Parabéns pro Hélio, fez o que todos gostaríamos de poder fazer. Um dia Garopaba chega lá.

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