A partir
de 1º de outubro, uma carga de 33 mil fitas do tipo betacam aguardará por
caminhões de mudança que irão resgatá-la do Edifício Victor Civita, no bairro
do Sumaré, em São Paulo. A fitoteca terá então um novo dono. Estão ali algo em
torno de 20 mil clipes, shows acústicos (incluindo o de Roberto Carlos - que
nunca foi ao ar, graças ao veto da Globo) e cenas antológicas como Caetano
Veloso clamando por “vergonha na cara, emetevê” durante a premiação do Video
Music Brasil (VMB) de 2007.
Com a
devolução da marca MTV ao grupo Viacom, o acervo do canal passa para as mãos do
grupo internacional e tem destino ainda incógnito lá. “Dava até pra fazer um
canal Viva de MTV, só com reprises do que tem aí, se eles (Viacom) quiserem”,
sugere Zico Goes, diretor de programação com 20 anos de serviços prestados na
MTV, emissora que vai fechando as cortinas. Apesar da pecha de moderninha, a
MTV tem apenas 10% do acervo de 23 anos digitalizados. Ali estão todos os VMBs,
todos os Acústicos MTV, a história do canal está ali, desde os programas de
Rita Lee, que fazia o Teveleezão, e do Netos do Amaral, com Marcelo Tas, logo
no comecinho”, conta Valter Pascotto, diretor de Operação. A quinze dias de fechar
a “lojinha”, Valtinho, como é conhecido na MTV, não foi procurado por ninguém
da Viacom para tratar da mudança.
A pedido
da Abril e da Viacom, a negociação pela venda do acervo passou por um “pente
fino”, feito pelo próprio Goes. O próprio Zico se surpreendeu com as
descobertas encontradas em seu levantamento sobre o acervo. Como o primeiro
show do Farofa Carioca (no qual apareceu um tal de Seu Jorge), a primeira vez
que os Racionais MC falaram à TV ou a primeira entrevista de Marcelo Bonfá e
Dado Villa Lobos após a morte de Renato Russo.
No dia
26, a MTV promove uma festa ao vivo em sua sede, no Sumaré, com shows de
bandas. Funcionários, ex-empregados e amigos serão vistos circulando pelos
corredores, entre comes e bebes. Será o epílogo para a transferência da marca
para a Viacom, que também merecerá chamadas pelo canal. “Vamos anunciar que a
MTV acaba aqui, mas continua lá”, conta Zico. Já sem medição no Ibope e
departamento comercial, a emissora funciona até o dia 30, quando ex-VJs
anunciarão uma série de clipes e Astrid Fontenelle, primeira a entrar no ar
quando a MTV surgiu, em 1990, dará o adeus. Gravada na semana passada, a cena
não terá lágrimas. “Fui muito digna”, antecipa Astrid.
Internet
Nascida
num tempo em que internet ainda era uma raridade e o YouTube soava mais a
ficção científica, a MTV fez as vezes de laboratório que os canais abertos não
ousavam ser. Essa experimentação já não caberá na nova MTV, que passa a ser um
canal pago, com alguma produção nacional, mas em menor escala que a do canal
agora desativado pelo grupo Abril.
“Não será
a mesma coisa porque as produções serão terceirizadas, mas eles não estão
errados: isso é o certo a fazer nesse momento. É mais moderno e é
economicamente mais viável”, reconhece Zico.
O papel
de laboratório agora cabe à web. “Mas, sem querer ser arrogante, esse mesmo
canal influenciou a própria internet”, sentencia Goes.
(Cristina
Padiglione, da Folhapress)
O canal aberto que foi porta voz da juventude das décadas de 90 e 2000 se vai mas boas lembranças vão ficar. Menos mal que na Sky vai continuar.
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