Por Nei Duclós, disponível em http://outubro.blogspot.com.br/2013/09/se-houvesse-lua.html
Se
houvesse lua, eu lembraria. Mas foi no escuro. Quando acordei, já tinhas ido.
Joguei
fora, achando que permanecia. Mas a ausência se vinga.
Nem
tudo o verso conserta. Preciso do sentimento, bálsamo da diferença.
Vieste
em busca da poesia mas descobriste que só existe alguém enredado na tua teia.
Tens
a natureza do vime, que perdura e toma a forma da cesta que guarda meu coração
cativo.
Nada
me inspira, já tenho dito antes de te vir sozinha. Formato o verso te
imaginando minha.
Nunca
vens diretamente. Fazes uma volta, como as andorinhas antes de mergulhar no
precipício.
Tenho
a palavra exata para este momento. A que desata o nó do teu vestido.
Ninguém
notou o assombro de tua passagem junto ao vento. Confundiram com a brisa e era
apenas o leve ondular do teu seio.
Vamos
nos reencontrar no dia perfeito, gravado nas nuvens esparsas de uma primavera
ainda tímida.
Eternidade
é quando nossa consciência migra, da porção terrena para um lote do paraíso.
A
linha do tempo costura e depois desfaz a biografia, para que o mistério
persista.
Escrevi
a profecia para desenhar o futuro, mas o tempo passa borracha no caderno de
desejos.
O
que significa essa mensagem que me sopraste? perguntou o médium. Sei
lá, disse o anjo. É ao portador. Depende de quem receber. Muito cômodo, disse o
medium. Sopras o que não adivinhas. Sou poeta, disse o anjo.
Essa cara de quem não se importa, de deixar a morte fazer o serviço e aguardar o que vem depois, se o Nada ou um solo de Frank Sinatra.
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